quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

GAYS E LÉSBICAS DE CIDADES PEQUENAS: ainda bem que inventaram a internet!!!



Cada vez mais o número de pessoas com acesso a internet está crescendo, trazendo oportunidade de ampliação do conhecimento e esclarecimento sobre assuntos não amplamente abordado nos livros.


No caso da homossexualidade, a internet foi e está sendo uma peça-chave para a aceitação da sociedade e, às vezes, para os próprios homossexuais.


Quem vive numa cidade relativamente grande tem mais acesso a meios sociais diferentes do habitual, bem como, contato com outras culturas e pensamentos.


No entanto, como é a vida de um(a) homossexual que vive numa cidade pequena?


Antes da internet, a vida de um homossexual numa cidade pequena não deveria ser nada fácil! Com quem um(a) homossexual poderia conversar sobre sua orientação sem medo de que todos soubessem? O que achariam dele(a) se fosse revelada a sua homossexualidade?


Com certeza, não era muito bom ser homossexual numa lugar pequeno. Imaginem o sentimento de solidão que viveram ...de imaginarem-se como os únicos gays ou lésbicas de uma região...o medo da reação dos demais...


Esta semana recebi um e-mail de um de meus leitores. Neste, ele relatou sobre a sua vida homossexual numa cidade pequena e iniciou o e-mail assim:


“Vincenzo,
Eu queria falar um pouco de mim! Tudo que você escreveu e que pesquisei fez com que eu notasse que há outras pessoas vivendo a mesma situação que a minha.
Sempre tive vontade e desejos por homens, mas achava isso coisa da minha cabeça. Sempre que via homens bonitos e gostosos eu ficava doido, mas, ao mesmo tempo, eu brigava com a minha própria cabeça. Então, como eu morava em uma cidade pequena não buscava entender meus sentimentos e sempre saia para as baladas acompanhado de irmão e transava com diversas mulheres (...) mas meus sentimentos eram por homens, aquilo que vivia era uma farsa!”.


Bom, quem tem contato ao conhecimento da sexualidade sabe que isto relatado é normal e cotidiano... que a maioria dos homossexuais, tanto homens como mulheres, passam por isso.


Cabe aqui ressaltar que o autor do e-mail morava numa cidade pequena e, geralmente, nestas localidades, o preconceito quanto a homossexualidade é muito maior que nas cidades grandes e a necessidade de casar é uma tradição muito forte.


Em outro trecho:


(...) já estava com 26 anos, sozinho, recebendo cobranças da família e da sociedade. Então, comecei a pensar nas pessoas e não em mim...passei a agradar as pessoas (...) conheci uma menina linda (...) 10 meses de namoro, eu já estava envolvido com e ela me fez esquecer aquele sentimento que sentia por homens. Falei a mim mesmo: “nossa, acho que estou curado, graças a Deus!


Imaginem uma vida homossexual com todos a sua volta dizendo que a homossexualidade é uma doença! Com tanta gente pensando da mesma forma fervorosamente, até um(a) homossexual pensaria que é doente.


(...) casamos, nasceu o nosso filho (...) ele era tudo que sonhei na vida (...).
(...) minha única razão de viver era meu filho, ele era minha injeção de ânimo. Mas chegou um ponto em que eu queria morrer e não sabia como fazer essa loucura (...) no meu trabalho fui removido, meus patrões pagaram um curso de informática e comecei a trabalhar com computadores e isto foi minha arma para descobrir tudo aquilo que eu sentia. Comecei a entrar e sites de bate-papo e comecei a conversar com outros homens casados e vi que eu não era o único que vivia daquela forma, existiam milhares de outras pessoas sofrendo (...)
“Conheci uma cara casado, que tinha dois filhos e conversamos por um ano, duas ou três vezes por semana e fomos nos ‘entendendo’ (...).


Com certeza existiam muitos outros homens homossexuais casados com mulheres em sua cidade, porém, a internet lhe deu acesso para poder expor seus verdadeiros sentimentos e descobrir que existem outros que passam a mesma situação.


(...) aquela situação, para mim, de dormir com minha esposa não era bom. Meu organismo rejeitava o toque dela, o sexo para mim passou a ser um sacrifício. Eu sempre fingia que estava cansado, com dor de cabeça para não fazer sexo com ela. Cheguei a passar de 1 a 2 meses sem fazer sexo (...).


Além do autor, com certeza sua esposa sofria. Em outras partes do e-mail, foi relatado que ela não era uma pessoa de agradável convivência. Quem sabe ela notava algo diferente, mas nunca imaginaria que seu marido era homossexual.


(...) me separei...deixei tudo para ela e para meu filho...voltei para casa dos meus pais... cada vez que ia visitar meu filho ela me tirava eles dos braços (...).


A dor de um pai amoroso e dedicado em ver seu filho sendo arrancado de seus braços é uma das piores situações, não importando neste momento a sexualidade, e sim, apenas o sentimento de amor entre pai e filho.


(...) além de não permitir ver meu filho ela o deixava com qualquer um e saia (...). Procurei um advogado e consegui o direito de pegar meu filho uma vez por semana até o dia da audiência.
(...) eu com minha calma comecei a conquistar tudo até a audiência. Ela só não perdeu a guarda do filho porque eu falei que o menino iria ficar com ela e porque a avó estava cuidando dele. Ela no dia da audiência bateu boca com o juiz...agora você imagina a pessoa que ela é, nem a própria mãe dela a apóia.
(...) sua própria mãe me valoriza por dedicar tempo, atenção e carinho pelo neto. Minha ex nem liga para o menino. Voltou a fazer faculdade e galinhar.


Bom, a alegação que a maioria dos magistrados, ao não permitir que um homossexual tenha a guarda do próprio filho, é a de que um homossexual não possui uma vida “normal” apta para uma criança.


No presente caso, o juiz foi muito sucinto em sua decisão, pois afinal, o que prevaleceu foi a dedicação do pai com a criança, destacando que a mãe (heterossexual) não possuía uma vida adequada, com meios de proporcionar a criança um ambiente saudável.


Na guarda de um filho o que deve prevalecer é a dedicação e amor dos pais... Cada magistrado deve analisar o melhor ambiente de criação de uma criança, sem abordar a orientação sexual dos pais.




Hoje em dia, não cabe, na Justiça Brasileira, juízes retrógados e sem conhecimento sobre ambientes familiares diversos do tradicional. Negar um pedido de guarda a um pai ou mãe pelo fato de serem homossexuais é rasgar a Constituição Brasileira de 1988.


(...) passou 5 anos e meu filho tem 8 anos. Já faz 5 anos de separação e conquistei tudo. Tenho minha própria casa meu carro tenho 3 empregos, estou bem estabilizado só falta um amor que nunca apareceu.
(...) não sou assumido e vivo no mundo virtual. Não me exponho em lugares GLS e tenho medo. Quero ser feliz com amor mas e agora que assumi realmente que não sinto nada por mulheres entendo que sou gay.


Um dia ele encontrará um homem que lhe faça viver um amor. Porém, no momento, o que cabe aqui dizer é que mesmo sendo virtualmente, o autor do e-mail não está mais só...agora ele sabe que há outras milhares de pessoas iguais a ele. Isto alivia a alma e a sensação de solidão é, agora, apenas um sentimento do passado.




BENDITA INTERNET!!!






por VINCENZO GONZAGA.

20 comentários:

Leo disse...

Interessante o post Vincenzo.
A internet é, com certeza, um grande veículo para nós. E Não apenas para descobrir que existem outros por aí, ou para cidadãos de cidades pequenas.
Moro no Rio desde sempre, mas me senti, e talvez sinta até hoje, sozinho. Sei que existem muitos homossexuais por aí, e sei até mesmo onde encontrá-los. Mas não quero algo pra uma noite e nem acho que seja muito fácil chegar num bar e puxar conversa com o primeiro que vir (que provavelmente não vai estar querendo só trocar uma idéia). Pela internet conheci pessoas que vivem situações muito parecidas com as minhas. Me senti menos freak.
Comecei a ser feliz como sou. E não apenas na esfera virtual.

João Roque disse...

Muito a propósito este texto, principalmente em relação aos que casam, só "porque assim deve ser" e mais tarde, descobrem que não deviam assim ter feito, arrastando para a infelicidade, mulher e filhos; é graças à internet que essas pessoas, ao contactarem casos semelhantes ganham, por vezes, a coragem de rectificar os erros passados.
Abração.

Math disse...

Parabéns.
Mais um bom texto para esse blog.
E reflete muito bem o que acontece em cidades pequenas.
Como eu disse...acho que cabe a nós mudarmos esse panorama.

Beijos meu querido.

Tales Tagliaferri disse...

Olá...
bem legal seu texto...
me vi bem no começo... já que moro mo interior de Minas... numa cidade pequena... enraizada no preconceito...
esses dias escrevi um post no meu blog q vale a pena você ler... é um pouco sobre esse mesmo assunto abordado por você
abrços e bjos mil
P.S.: o link [http://talestagliaferri.blogspot.com/2008/11/por-que-que-tem-que-ser-assim.html]

Don't Speak disse...

Oi Vincenzo.!
Realmente a internet é um veículo de comunicação que nos permite fazer diversas coisas.
Para um homossexual que mora em uma cidade pequena..realmente é complicado. Eu moro em uma cidade que tem apenas 14 mil habitantes. Aqui tenho muitos amigos gays..e muitos que ainda não se "assumiram"...mas entendo o pq deles fazerem isso. O preconceito contra homossexuais aqui é muito grande. Eles são ofendidos em qualquer lugar...
Só é feliz aqui...aquele homossexual que não liga para o que as outras pessoas dizem.
Maas...parece que o mundo está mudando sua visão quanto a eles agora...em breve espero ver todos nós vivendo em IGUALDADE mesmo..independente de nossas escolhas.
Beijoo Vincenzo..adoro seu blog.!

AIRBORNE disse...

cara, o que eu mais vejo ultimamente em site de bate papo é homem casado com mulher...

realmente a internet ajuda a essas pessoas pelo menos a terem contato com outras e poderem trocar experiências e até mudar a visão sobre elas mesmas e se assumirem...

uma pena que elas tenham que ficar nessa vida dupla, sem poderem exercer sua felicidade plenamente... um dia isso ainda acaba, espero...

beijos!

Carlos Eduardo disse...

Gostei do post,
a Internet tem sim coisas péssimas, mas ao mesmo tempo também funciona como válvula de escape para vontades e sentimentos.. o que não deixa de ser o que nós - blogueiros - fazemos.



Apareça sempre, e claro.. se você puder dar uma divulgada no meu blog - caso tenha gostado, claro! - eu agradeceria! =]


ps. Sua mãe é psicóloga, não!?





http://putoanonimo.blogspot.com

Carlos Eduardo disse...

Elá possui algum blog, ou coisa assim?






http://putoanonimo.blogspot.com

Alice disse...

Muito bom o texto, nós que moramos em cidades médias ou grandes geralmente não nos lembramos de quanto a vida de um(a) homossexual pode ser complicada em um lugar pequeno e conservador. Que a internet continue sendo essa ferramenta maravilhosa de descoberta e libertação.

Bubbles disse...

Adorei o blog! Cool, inteligente e vc eh um gato! Prontojafalei! lol
Vou adiciona-lo a minha lista.
xxx

Mari disse...

Vi,
Perfeito!!
Eu mesma, moradora do Rio, uso a internet. Nós que somos blogueiros dividimos algumas dessas questões tbem.
Quero saber notícias suas e como está caminhando os escritos!! Precisa de mais ajuda??

Já comecei minhas mentalizações para um 2009 maravilhoso para as pessoas queridas. Claro que vc está entre elas!!

bjos

Fábrica de Música disse...

Também já refleti sobre o assunto várias vezes. Eu tive a sorte de ter descoberto a internet na adolescencia, se não teria um destino parecido com o dele. Mesmo assim morro de vontade de um dia sair da minha cidade e ir para bem longe.

SP disse...

Muito interesante o teu blogue!
Parabéns!!!
Um abraço... peludo, assim*

Anônimo disse...

Faço minhas cada palavra do comentário do Rodrigo (14/12/08). E digo mais: moro há 10 anos num fim-de-mundo com 50 mil habitantes e só vi gays pela TV até hoje! O preconceito por aqui lembra até os tempos da santa inquisição...

Viva a Internet, hehe! Abração ;D

Anônimo disse...

eu sou o altor do comentarios sealguem interessar en conversar com migo me add no msn sungabranca35@hotmail.com estou pronto para um novo amor abraço....

Thiago de Assumpção disse...

sei muito bem desta possagem...
minha vida e ligada a muito na net..
so conheci lugares e festa atraves da net...

Mari disse...

Vi lindão!
Quando vc tiver tempo, passe no Queer Gisl para vc ver como as lésbicas são tratadas nos consultórios médicos e por ginecos, hein!? A história aconteceu comigo. Inacreditável!! Lembrei dos teus textos maravilhosos! Achei que vc faria um perfeito sobre o assunto!!
bjos!!

CÓDIGO SECRETO disse...

Gostei muito do tema;
importante lembrar que em tudo temos direitos e deveres iguais;

abraços e adorei a visita...

Alan Michel disse...

Muito bom o texto!
A Internet certamente rompe fronteiras, e o que é mais legal é que muitas pessoas urbanas (como eu) se sensibilizam com as pessoas que moram no interior, o que mostra um olhar curioso e respeitoso àquele que é diferente de mim...

Esperamos que todos podemos mudar a realidade, independentemente de morarmos em cidades grandes ou pequenos, temos um grande potencial dentro de cada um de nós e, principalmente, em coletividade!
Abraços.

DouglasFerT disse...

Eu tenho um colega de faculdade que mora em uma cidade BEM pequena e tem MUITO medo de fazer qlqr coisa. Bem, eu o entendo. No começo eu tinha medo até beijar outro homem em público do outro lado do mundo e ser descoberto!