Cada vez mais o número de pessoas com acesso a internet está crescendo, trazendo oportunidade de ampliação do conhecimento e esclarecimento sobre assuntos não amplamente abordado nos livros.
No caso da homossexualidade, a internet foi e está sendo uma peça-chave para a aceitação da sociedade e, às vezes, para os próprios homossexuais.
Quem vive numa cidade relativamente grande tem mais acesso a meios sociais diferentes do habitual, bem como, contato com outras culturas e pensamentos.
No entanto, como é a vida de um(a) homossexual que vive numa cidade pequena?
Antes da internet, a vida de um homossexual numa cidade pequena não deveria ser nada fácil! Com quem um(a) homossexual poderia conversar sobre sua orientação sem medo de que todos soubessem? O que achariam dele(a) se fosse revelada a sua homossexualidade?
Com certeza, não era muito bom ser homossexual numa lugar pequeno. Imaginem o sentimento de solidão que viveram ...de imaginarem-se como os únicos gays ou lésbicas de uma região...o medo da reação dos demais...
Esta semana recebi um e-mail de um de meus leitores. Neste, ele relatou sobre a sua vida homossexual numa cidade pequena e iniciou o e-mail assim:
“Vincenzo,
Eu queria falar um pouco de mim! Tudo que você escreveu e que pesquisei fez com que eu notasse que há outras pessoas vivendo a mesma situação que a minha.
Sempre tive vontade e desejos por homens, mas achava isso coisa da minha cabeça. Sempre que via homens bonitos e gostosos eu ficava doido, mas, ao mesmo tempo, eu brigava com a minha própria cabeça. Então, como eu morava em uma cidade pequena não buscava entender meus sentimentos e sempre saia para as baladas acompanhado de irmão e transava com diversas mulheres (...) mas meus sentimentos eram por homens, aquilo que vivia era uma farsa!”.
Bom, quem tem contato ao conhecimento da sexualidade sabe que isto relatado é normal e cotidiano... que a maioria dos homossexuais, tanto homens como mulheres, passam por isso.
Cabe aqui ressaltar que o autor do e-mail morava numa cidade pequena e, geralmente, nestas localidades, o preconceito quanto a homossexualidade é muito maior que nas cidades grandes e a necessidade de casar é uma tradição muito forte.
Em outro trecho:
(...) já estava com 26 anos, sozinho, recebendo cobranças da família e da sociedade. Então, comecei a pensar nas pessoas e não em mim...passei a agradar as pessoas (...) conheci uma menina linda (...) 10 meses de namoro, eu já estava envolvido com e ela me fez esquecer aquele sentimento que sentia por homens. Falei a mim mesmo: “nossa, acho que estou curado, graças a Deus!
Imaginem uma vida homossexual com todos a sua volta dizendo que a homossexualidade é uma doença! Com tanta gente pensando da mesma forma fervorosamente, até um(a) homossexual pensaria que é doente.
(...) casamos, nasceu o nosso filho (...) ele era tudo que sonhei na vida (...).
(...) minha única razão de viver era meu filho, ele era minha injeção de ânimo. Mas chegou um ponto em que eu queria morrer e não sabia como fazer essa loucura (...) no meu trabalho fui removido, meus patrões pagaram um curso de informática e comecei a trabalhar com computadores e isto foi minha arma para descobrir tudo aquilo que eu sentia. Comecei a entrar e sites de bate-papo e comecei a conversar com outros homens casados e vi que eu não era o único que vivia daquela forma, existiam milhares de outras pessoas sofrendo (...)
“Conheci uma cara casado, que tinha dois filhos e conversamos por um ano, duas ou três vezes por semana e fomos nos ‘entendendo’ (...).
Com certeza existiam muitos outros homens homossexuais casados com mulheres em sua cidade, porém, a internet lhe deu acesso para poder expor seus verdadeiros sentimentos e descobrir que existem outros que passam a mesma situação.
(...) aquela situação, para mim, de dormir com minha esposa não era bom. Meu organismo rejeitava o toque dela, o sexo para mim passou a ser um sacrifício. Eu sempre fingia que estava cansado, com dor de cabeça para não fazer sexo com ela. Cheguei a passar de 1 a 2 meses sem fazer sexo (...).
Além do autor, com certeza sua esposa sofria. Em outras partes do e-mail, foi relatado que ela não era uma pessoa de agradável convivência. Quem sabe ela notava algo diferente, mas nunca imaginaria que seu marido era homossexual.
(...) me separei...deixei tudo para ela e para meu filho...voltei para casa dos meus pais... cada vez que ia visitar meu filho ela me tirava eles dos braços (...).
A dor de um pai amoroso e dedicado em ver seu filho sendo arrancado de seus braços é uma das piores situações, não importando neste momento a sexualidade, e sim, apenas o sentimento de amor entre pai e filho.
(...) além de não permitir ver meu filho ela o deixava com qualquer um e saia (...). Procurei um advogado e consegui o direito de pegar meu filho uma vez por semana até o dia da audiência.
(...) eu com minha calma comecei a conquistar tudo até a audiência. Ela só não perdeu a guarda do filho porque eu falei que o menino iria ficar com ela e porque a avó estava cuidando dele. Ela no dia da audiência bateu boca com o juiz...agora você imagina a pessoa que ela é, nem a própria mãe dela a apóia.
(...) sua própria mãe me valoriza por dedicar tempo, atenção e carinho pelo neto. Minha ex nem liga para o menino. Voltou a fazer faculdade e galinhar.
Bom, a alegação que a maioria dos magistrados, ao não permitir que um homossexual tenha a guarda do próprio filho, é a de que um homossexual não possui uma vida “normal” apta para uma criança.
No presente caso, o juiz foi muito sucinto em sua decisão, pois afinal, o que prevaleceu foi a dedicação do pai com a criança, destacando que a mãe (heterossexual) não possuía uma vida adequada, com meios de proporcionar a criança um ambiente saudável.
Na guarda de um filho o que deve prevalecer é a dedicação e amor dos pais... Cada magistrado deve analisar o melhor ambiente de criação de uma criança, sem abordar a orientação sexual dos pais.
Hoje em dia, não cabe, na Justiça Brasileira, juízes retrógados e sem conhecimento sobre ambientes familiares diversos do tradicional. Negar um pedido de guarda a um pai ou mãe pelo fato de serem homossexuais é rasgar a Constituição Brasileira de 1988.
(...) passou 5 anos e meu filho tem 8 anos. Já faz 5 anos de separação e conquistei tudo. Tenho minha própria casa meu carro tenho 3 empregos, estou bem estabilizado só falta um amor que nunca apareceu.
(...) não sou assumido e vivo no mundo virtual. Não me exponho em lugares GLS e tenho medo. Quero ser feliz com amor mas e agora que assumi realmente que não sinto nada por mulheres entendo que sou gay.
Um dia ele encontrará um homem que lhe faça viver um amor. Porém, no momento, o que cabe aqui dizer é que mesmo sendo virtualmente, o autor do e-mail não está mais só...agora ele sabe que há outras milhares de pessoas iguais a ele. Isto alivia a alma e a sensação de solidão é, agora, apenas um sentimento do passado.
BENDITA INTERNET!!!
por VINCENZO GONZAGA.